Uma perspectiva bíblica sobre a Europa
01/02/2025
“Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade.” Atos 17.16
Quem já visitou o continente europeu concordará comigo que a Europa toda é linda e merece ser descoberta e apreciada. Quem não se encanta vendo fotos românticas de cidades antigas e castelos medievais? Mas é triste constatar que a Europa tem sido vista apenas como alvo das nossas pretensões turísticas. Longe de achar que fazer turismo na Europa seja algo errado, afirmo que a igreja brasileira precisa despertar-se para a necessidade de enviarmos missionários para esses países, que já foram marcadamente cristãos.
O texto bíblico em destaque nos diz que o apóstolo Paulo também teve a oportunidade de visitar a Europa, e mais especificamente a cidade de Atenas, na Grécia. Sua perspectiva, porém, foi bastante diferente da que a maioria de nós tem do Velho Continente. Apesar de ter experimentado seu apogeu cultural ainda no século V antes de Cristo, Atenas continuava sendo um importante centro intelectual do mundo antigo, abrigando uma importante Universidade nos tempos de Paulo. Sem dúvida, ao chegar a Atenas, Paulo estava diante de um dos maiores patrimônios culturais e arquitetônicos do mundo antigo.
A perspectiva de Paulo
Embora pudesse estar impressionado com a beleza da cidade, a postura de Paulo é diferente daquela que poderíamos presumir. O texto bíblico diz que “o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade”. Não há um deslumbramento qualquer. Na realidade, Paulo estava profundamente consternado com a quantidade de ídolos que a cidade abrigava e venerava.
O verbo grego usado para descrever a indignação do apóstolo (revoltava) denota uma perturbação tão grande a ponto de impedir alguém de permanecer inerte diante de determinada situação. Esse verbo aparece na forma de substantivo em Atos 15.39 quando é dito que entre Paulo e Barnabé houve “desavença”, isso é, uma discussão tão acalorada que se tornou irreconciliável.
A causa de tão grande inquietação é mais do que clara: a idolatria dominante na cidade. Havia tantos ídolos em Atenas que não há qualquer consenso entre os estudiosos a respeito de seu número preciso. Cito Pausânias (c.115-180 d.C.), um geógrafo da antiguidade, que declarou: “os atenienses são notáveis não só pela sua humanidade, mas também por sua devoção à religião. Eles têm um altar para a [deusa] Modéstia, um para o [deus] Rumor e um para o [deus] Esforço”.
A nossa perspectiva
Mas afinal, no que isso afeta a nossa perspectiva com relação à obra missionária especialmente no continente europeu?
Ora, primeiramente parece-nos claro que o apóstolo não tem qualquer resistência interior em pregar o Evangelho em Atenas, uma cidade rica e intelectualizada que possuía de tudo, menos a verdadeira adoração ao “Deus desconhecido”. Vemos que Paulo não tem dúvidas na hora de estabelecer suas prioridades nem está dividido interiormente quanto a evangelizar ricos ou pobres. Para ele no passado, e para nós hoje, a missão precisava e precisa ser feita tanto nas cidades carentes da África subsaariana como na próspera Europa.
Infelizmente, boa parte da igreja brasileira vê o trabalho missionário entre os europeus como turismo e resiste em apoiar obreiros que o Senhor quer enviar pra cá. Ainda persiste no imaginário de muitos o modelo do missionário que deve sofrer privações materiais no campo e a ideia de que tudo aquilo que não é essencial para o trabalho é tão somente luxo dispensável.
Em segundo lugar, lembremo-nos que a razão da indignação de Paulo é a idolatria reinante na cidade. Acostumamo-nos a pensar que esse é um mal de que padecem apenas os católicos romanos, já que sempre associamos idolatria com iconolatria, isso é, a adoração de imagens. É bem verdade que é justamente esse o contexto de Paulo. Mas reduzir a idolatria à veneração de imagens é um erro fatal.
Nossa falha é não perceber que antes de ser um produto das nossas mãos, a idolatria é um produto do nosso coração. E como não reconhecer que os europeus vivem prostrados diante dos deuses da modernidade? A busca pela riqueza, o individualismo exacerbado e a independência libertária são alguns dos bezerros de ouro que os europeus erigiram para si. Não os reconhecemos como ídolos porque perdemos a capacidade de enxergar a religião secularizada como a adoração a falsos deuses.
Meu desejo e minha oração é que tantos quantos sejam os turistas que venham para cá, venham também pastores e missionários, tão numerosos a ponto de muitos europeus se perguntarem: “Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas?” (Atos 17.19).
Rev. Cyro Ferreira
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