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Dispersão Missio Dei e a Tradução da Bíblia

15/11/2024

A missão, quando realizada à maneira de Deus, leva a marca da peregrinação, do sair, do ser disperso. Há nas Escrituras diversas passagens que indicam claramente que essa é a forma em que as outras nações ou famílias da terra seriam abençoadas.

Um exemplo disso são os movimentos migratórios na Bíblia que, em certas ocasiões, Deus usou para efetuar ou levar a cabo alguns aspectos de sua missão. No clássico chamado de Abraão, observa-se que aquele que foi disperso por Deus (Gênesis 12.1) seria o instrumento que Deus usaria para reunir os que haviam sido dispersos por ocasião do julgamento na torre de Babel.

A Missio Dei, portanto, exige um movimento em direção às nações. E quando o povo de Deus não sai para ser bênção às nações por obediência e iniciativa própria, Deus o faz sair a sua maneira, como, por exemplo, no caso de Jonas, do povo sendo levado para o exílio em 587 a.C. ou por meio da dispersão como em Babel, no ir e fazer discípulos, na perseguição à igreja e em Pentecostes. A narrativa do Pentecoste é sempre lida em paralelo com a de Babel e é comumente considerada por muitos estudiosos como a reversão ou cura de Babel, ou seja, como o outro lado de uma mesma moeda. Em certo sentido, é isso que acontece. Entretanto, o tema da dispersão serve como um ponto forte que nos ajuda a lermos Atos 2.1-13, em certo aspecto, como continuidade de Babel, no sentido de manter a proposta original de Deus.

Em Atos 1.8 lemos: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” Esse versículo nos mostra dois aspectos relevantes da Missio Dei: primeiro, que os agentes da Missio Dei agora seriam dispersos, como testemunhas, através da Missio Espiritu Sancti e, segundo, que o objeto da missão continua sendo todas as nações da terra. Nesse versículo, Lucas nos recorda também que a bênção, a capacitação e o poder do Espírito Santo não são dirigidos ao povo de Deus como um depositário, mas são concedidos com vistas a abençoar todos os povos ou famílias da terra.

Do capítulo 1 verso 8 até o final do livro de Atos, Lucas deixa claro que a missão do Espírito Santo é capacitar e dispersar o povo de Deus em sua missão até aos confins da terra. E está mais do que claro nas Escrituras que quando o Espírito Santo foi dado à igreja, o seu propósito fundamental era enviar a igreja na continuação da missão do próprio Jesus Cristo no mundo. E como isso seria feito? Como levaríamos adiante a Missio Dei rumo às nações?

O texto de atos 2 é muito conhecido e não há necessidade de repeti-lo aqui, mas existe um detalhe importante e que muitas vezes tem sido negligenciado em nossa práxis missionária: a língua materna. No versículo 8, lemos: “como ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?" (v.8). Isso é de suma importância, porque nos mostra a maneira pela qual o Espírito Santo atua na missão. E se a missão é do Espírito Santo, ela resultará na tradução do evangelho a uma multidão de línguas e culturas. O que vemos, então, na passagem mencionada acima, é uma explícita aceitação das diferenças linguísticas e culturais.

O Espírito Santo não exige que todos adotem a língua e cultura dos apóstolos, pelo contrário, Ele faz com que cada ouvinte escute das grandezas de Deus em seu próprio código linguístico e cultural. Deus, através do Espírito Santo, utiliza as diferentes línguas para comunicar o Evangelho a todos os povos.

A unidade no anúncio do Evangelho em meio à diversidade de línguas (2.9) é resultado da ação graciosa de Deus a favor da diversidade étnica. A unidade implica respeito pela diferença, nesse caso, a diferença étnica. E é por meio do Espírito Santo que os apóstolos e a igreja são dispersos, e as nações podem ouvir das grandezas de Deus em sua própria língua. A orientação inicial de Jesus aos seus apóstolos era que permanecessem em Jerusalém, até que recebessem o Espírito Santo, mas a partir de Pentecostes todos são dispersos para testemunhar e anunciar o evangelho a toda criatura.

O livro de Atos não se encerra, e creio que Lucas faz isso com o propósito de nos mostrar que assim como o Espírito Santo fez dispersando a Felipe, Estevão, Pedro, Paulo, Priscila, Lídia e outros, segue fazendo com a igreja através da história até os nossos dias e seguirá fazendo até que Cristo volte. A dispersão, portanto, além de ser vista como um ato do juízo e graça de Deus, pode e deve ser vista como meio que Deus usa para levar a cabo sua missão.

Portanto, que o Espírito Santo continue dispersando homens e mulheres para que saiam e traduzam a Bíblia, possibilitando aos povos o acesso à Palavra de Deus em seu próprio idioma.

Rev. Paulo Oliveira

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