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Missões de Amor

13/05/2024

Diante de quadros nos quais nós mesmos sofremos, recai sobre nós a tentação de nos vitimizar e nos fechar em nossa subjetividade de autocomiseração. Porém o chamado cristão para amar o próximo toca não só a nossa alma, mas também nosso chamado missionário, como pretendo demonstrar nesta reflexão missionária.

Possivelmente a autopercepção cristã como mordomos de Deus seja uma das necessidades mais gritantes no nosso meio evangélico brasileiro, pois a consciência da responsabilidade individual costuma ser frágil diante do outro, o que torna a nossa vivência religiosa predominantemente individualista, ainda que haja boas iniciativas de socorro aos necessitados em nossas igrejas. Mas como vemos as necessidades do mundo? Elas nos parecem tão distantes da nossa competência e razoável responsabilidade, não é mesmo?

Biblicamente, a verdadeira religião deve se manifestar com sensibilidade para com os fisicamente necessitados e desprovidos de socorro ao nosso alcance, pois não nos basta professar uma fé teologicamente correta; é preciso que essa fé se evidencie através de obras que mostrem um novo coração, mais sensível e atuante, pronto para socorrer os carentes ao nosso alcance (Tg 2.18). O próprio Deus se apresenta na Escritura como alguém atento, sensível e atuante em favor dos desfavorecidos e é precisamente este atributo divino, a compaixão, que somos chamados a expressar através da nossa ação cristã diaconal, pois sua ação implicou uma aproximação redentora rompendo enormes barreiras também como paradigma de ação cristã (Fp 2.5-7).

Como cristãos, jamais devemos reduzir a piedade cristã e nossa conduta individual a um mero esforço de cumprir uma lista comportamental, geralmente ascética, como se não tivéssemos nenhuma responsabilidade para com os tantos que sofrem e estão ao nosso alcance. Em um mundo globalizado e interconectado, até mesmo a distância geográfica está relativizada pelo nosso real interesse de aproximação. Por outro lado, não podemos cair na tentação de descambar em um conjunto de atos filantrópicos, pois apesar de serem bem-vindos aos necessitados, o Reino de Deus não é, essencialmente, comida ou bebida, mas também atenção, paciência, capacitação, oportunidades e outros recursos da graça divina visando a restaurar a completa imagem de Deus em pecadores que sofrem os efeitos do pecado.

Nossas missões de amor ao próximo, portanto, devem ser todo o conjunto de ações que expressem – através de nós e de forma concreta – o amor de Deus para com os que sofrem; e isso como evidência prática do Evangelho, da aproximação redentora de Deus, que nós mesmos temos experimentado. Somente esse amor, derramado em corações de pecadores como nós (Rm 5.5), é poderosamente eficaz para transformar egoístas em altruístas. A pergunta que devemos buscar responder diante do próximo é: nas circunstâncias em que nos encontramos, quais seriam as boas obras para as quais Deus nos preparou de antemão para que andássemos nelas (Ef 2.10)?

Não apenas, mas também, contribuir com uma campanha de socorro ao próximo em momentos de tragédia, são exemplos de missões de amor a quem está longe, assim como o são a quem está perto, gestos de aproximação e contato, servindo com: uma audição, um consolo, uma ajuda, um cuidado, um abraço, um ouvido atento, uma palavra de consolo, uma assistência, uma oração, um presente. Todo gesto de cuidado, amor e carinho é um rico presente da graça divina especialmente quando o dia mau alcança a vida de alguém.

Tempos de crise também são tempos de oportunidades, assim como os tempos das provações são ricamente reveladores do vigor da nossa fé e um excelente convite à maior dependência de Deus e amor ao próximo. Sendo assim, após a pandemia que enfrentamos, com seus efeitos econômicos agravados pelo conflito na Ucrânia, a tragédia sísmica no Oriente Médio nos lembra que épocas de perdas e dor também são dias oportunos para oferecermos graça e amor aos aflitos, assim como Deus o faz. Sendo assim, o atual cenário, recheado de inúmeras carências, é uma excelente oportunidade para demonstrarmos a graça divina através de ações, corroborando o que nos ensina a epístola de Tiago (2.17). Também é oportuna a renovação do nosso apoio aos missionários, pois não foram poucos os que resistiram com resiliência aos efeitos das crises recentes em sua própria vida, ministério, saúde e manutenção.

A carência daqueles a quem podemos socorrer requer não apenas missões de amor praticadas por cristãos individualmente, mas também por cristãos coletivamente, pois ambos, indivíduo e grupo, devemos evidenciar concretamente como Igreja que a graça de Deus não foi revelada apenas para a redenção da nossa alma, mas também para manifestar a glória de Deus através de atitudes concretas por meio de nós que o temos conhecido (Tt 1.16; 2.14; 3.8), pois Cristo sempre perturba nossa “zona de conforto”, uma vez que a sua presença redentora tanto revela, quanto cura a nossa miséria pelo poder da sua graça.

Precisamos, entretanto, ser alertados que nem toda entrega é saudável, pois assim como o egoísmo é o cerne do cuidado consigo mesmo apenas, o altruísmo também pode ser uma rota tentadora de autorredenção pelo sacrifício pessoal. Por essa razão devemos vigiar e orar pela capacidade de enxergar as oportunidades e, em face a essas oportunidades, avaliarmos nossas competências, limites e condições – oferecidos pela providência divina – sem, contudo, jamais esquecermos que Deus é a fonte de toda boa dádiva e de todo dom perfeito (Tg 1.17), pois somente pela sua presença em nós haveremos de ser capazes de andar a segunda milha quando as pernas não aguentam dar nem mais um passo e pagar o mal com bem quando o coração quer revidar o mal com o mal.

Lembremos ao nosso coração que o mundo tem apenas um salvador, o eterno Filho de Deus, Jesus Cristo, o Senhor. É a ele que somos chamados a seguir e anunciar, servindo ao próximo e à sua Igreja e é na força desse Salvador, na proclamação da sua glória, na dependência do seu Espírito e no anúncio da sua pessoa e obra, que o Reino de Deus é estabelecido sobre toda a face da Terra. Não raramente perdemos esse foco, sendo tentados a agir na nossa força, impor o nosso ponto de vista, dedicarmo-nos à obra em busca de reconhecimento ou até mesmo atirarmo-nos numa entrega insana e inconsequente em nome de uma causa nobre, o que mascara a busca de autoprojeção com uma face “piedosa”.

Este mundo (e nós mesmos) está afetado pelo pecado, o que resulta em dores, disfunções, sofrimentos, privações, porém este mundo caído foi visitado pelo Criador na pessoa do seu Filho, com o propósito de redimi-lo; e é na dependência do Espírito que todas as nossas ações devem ser uma expressão de amor ao próximo como uma manifestação do amor de Deus por pecadores como nós.

Para concluir esta reflexão missionária, eu lhe convido a refletir sobre o que leu e a buscar pessoas interessadas na mesma temática, para juntas demonstrarem concretamente o amor de Deus por pessoas reais em circunstâncias concretas de necessidade. Por que não mobilizar um grupo, apoiar com contribuições específicas e ainda buscar outras formas de contribuir, através de algum trabalho de socorro e misericórdia, a pessoas desassistidas, de tal maneira a apascentar a vida de alguns corações aflitos com a provisão de Cristo?

E, por fim, por que não contatar um missionário e organizar algum apoio, quiçá até mesmo uma visita ao campo daquele irmão, quando possível, indo em caravana conhecer o seu trabalho e dar uma colaboração de curto prazo em um período de férias? Os campos estão brancos e os trabalhadores são poucos, você gostaria de se juntar a eles?

Rev. Raimundo Montenegro

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