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Autocuidado - Cuidando mais de si mesmo para melhor cuidar de outros

13/03/2025

“Tem cuidado de ti mesmo...” (1 Tm. 4:16a)

Já faz algum tempo, ouvi de um dos meus filhos, em tom de protesto, a seguinte frase: “Pai, pare de querer consertar tudo que está errado!” Ele cresceu vendo os pais lutando para oferecer acolhimento espiritual, emocional e até mesmo amparo físico a pessoas em situações diversas, mas, sobretudo, a refugiados em situação de desamparo e desespero quanto ao futuro. Levou algum tempo, mas, eventualmente, entendi o recado. Teologicamente sabia que não está em nossas mãos o poder de mudar nada, mas na prática estava agindo como se fosse detentor desse poder.

No fundo é bem isso mesmo! Queremos viver a experiência celestial no aqui e agora. Ansiamos por um mundo sem as limitações impostas pela condição do homem caído. Facilmente esquecemos que no mundo presente, no qual vivemos os efeitos da queda estão por todos os lados e, por conseguinte, nossa experiência de vida e ministério se dá num ambiente hostil, disfuncional, machucado e sem esperança. E assim será a nossa convivência nele até o dia da redenção final.

Remediá-lo a partir dos nossos próprios esforços, por mais nobres que sejam as motivações do nosso coração, está totalmente fora do nosso alcance e possibilidades. Pelo ensino das Escrituras, e até mesmo pela nossa própria experiência, já sabemos se tratar de algo totalmente impossível. Jesus não curou todos os doentes e nem expulsou demônios de todas as pessoas possuídas por espíritos malignos que encontrou ao longo de seu ministério terreno. Ele repreendeu a Judas Iscariotes, quando este sugeriu que, ao invés do “desperdício” com o perfume de nardo puro, o mesmo deveria ser vendido e o dinheiro distribuído com os pobres. O próprio texto de Jo. 12:6 nos diz que sua motivação era outra: “Ele não falou isso por se interessar pelos pobres, mas porque era ladrão; sendo responsável pela bolsa de dinheiro, costumava tirar o que nela era colocado.” (NVI). E ao repreender Judas, Jesus apontou exatamente para a realidade do mal continuamente entre nós.

É importante observar que, neste episódio em particular, Jesus reage ao falso altruísmo de Judas nos dando a entender que, embora não devamos nos conformar com o sofrimento alheio, precisamos aprender a estabelecer as prioridades corretas. E a prioridade é sempre Cristo que, ao contrário das circunstâncias que envolvem nossas vidas e daqueles que nos cercam, é onipresente, onipotente, onisciente, eterno e imutável. Ele diz: “...os pobres vocês sempre terão consigo, mas a mim vocês nem sempre terão” (Jo. 12:8, NVI). Todas as condições circunstanciais ao nosso redor são transitórias e passíveis de mudança, inclusive o sofrimento. Mas Ele, não!

Assim como a pobreza mencionada por Jesus, as demandas e carências, nossas e dos outros, caminharão conosco, lado a lado, ao longo de toda a existência terrena. Talvez até como um contínuo lembrete acerca do nosso passado, uma lembrança permanente acerca do estado em que estávamos quando fomos achados por Ele e de onde nos tirou em meio aos nossos dissabores, dado ao estado de perdição que nos encontrávamos. Bem como, acerca do nosso futuro glorioso com Ele na eternidade, conforme o próprio Jesus nos revela em Apocalipse 21:3-5 que diz: “Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou. Aquele que estava assentado no trono disse: ‘Estou fazendo novas todas as coisas!’” (NVI).

O fato é que todos nós, cristãos comprometidos com o evangelho em geral, e pastores e missionários, em particular, estamos sempre ocupados com o outro, até mesmo pela natureza do trabalho a que fomos chamados a realizar. Estamos sempre querendo ajudar o outro a ter o seu problema resolvido, o seu pecado superado, as suas fraquezas assistidas, a sua família reestruturada, as suas dívidas quitadas, seus pais sendo honrados, os seus filhos andando nos caminhos do Senhor, etc. O foco está sempre no outro. E isso não é de tudo ruim. Aliás, é saudável pensarmos e vivermos dessa maneira.

No entanto, entendo que existem muitos perigos, dentro os quais gostaria de destacar apenas dois: O primeiro deles é de natureza prática. Trata-se do perigo de simplesmente negligenciarmos uma expressa ordem bíblica – “cuida de ti mesmo!” E a menosprezamos, talvez por confundirmos a necessidade de autocuidado com uma vida centrada em si mesmo. No entanto precisamos achar o equilíbrio. O receio de estarmos agindo de maneira egocêntrica não pode nos impedir de cuidar de nós mesmos.

Em nenhum momento o autor, inspirado pelo Espírito Santo, quer promover qualquer ideia contrária às próprias Escrituras, transformando o autocuidado num estilo de vida egocêntrica. E, claro, como todo e qualquer comportamento humano, corremos o risco de cair no extremo e passarmos a viver de maneira egocêntrica, sim. Afinal, as distorções, fruto da queda, continuam nos servindo de tropeços, mesmo depois de lavados no sangue remidor do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo. 1:29), mesmo depois de regenerados em Cristo Jesus. Mas não é disso que o apóstolo Paulo está tratando aqui ao orientar seu filho na fé, Timóteo, no exercício de seu ministério na igreja de Éfeso.

Portanto, não caiamos na falácia de Satanás, nosso acusador, de acharmos que dedicar tempo e atenção às nossas necessidades pessoais se trata sempre de comportamento egocêntrico. Pelo contrário, a preocupação em se cuidar deve representar nossa resposta em obediência ao Senhor e à Sua palavra. Precisamos, sim, criar e priorizar tempo para o exercício devocional pessoal diário, cuidar da saúde exercitando o corpo  e mente, e mantendo uma boa higiene pessoal, comer de maneira saudável, dormir o tempo necessário, ter um descanso semanal, desenvolvermos um hobby, cultivar amizades saudáveis, promover crescimento pessoal por meio de cursos e boas leituras, etc.

O segundo perigo de tirarmos o foco do autocuidado em detrimento do cuidado alheio, é o que eu vejo como sendo uma distorção teológica. Corremos o risco de fazer o que fazemos sob o falacioso pretexto de que o bem na vida do outro depende de nós, como se fôssemos a fonte desse bem. A Palavra nos ensina que “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes.” (Tg. 1:17, NVI). Seria muita arrogância da nossa parte vivermos nossa vida e exercermos o nosso ministério achando que é o que fazemos de bom que geram os frutos que os nossos olhos vêm. Isaias nos diz que “Somos como o impuro — todos nós! Todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo. Murchamos como folhas, e como o vento as nossas iniquidades nos levam para longe.”  (Is. 64:6, NVI)

Ledo engano, acharmos que o nosso muito ou pouco fazer pode salvar ou condenar alguém, por exemplo. Sim, precisamos trabalhar como se a salvação do perdido, de dentro e de fora da nossa casa, dependesse de nós. Precisamos ser diligentes no testemunho de Cristo e operosos em nosso trabalho. Mas precisamos, também, sedimentar em nossas mentes e corações que o agir, o fazer, o operar a salvação, pertence a Deus, somente a Deus. Pensar e agir de modo diferente a esse ensino das escrituras significar roubar a Sua glória, conforme Paulo aos Efésios capítulo 2 versos 8 a 10.

A salvação do perdido, do começo ao fim, é obra exclusiva, única e cabal do Espírito Santo de Deus. Somente o Espírito Santo pode convencer o homem do seu pecado, da justiça e do juízo de Deus (Jo. 16:8-11).  Às vezes, em nosso coração presunçoso, somos tentados a firmar como verdade a mentira de que somos nós que operamos a salvação, em nós mesmos ou nos outros. Não é porque o nosso cônjuge ou os nossos filhos ou qualquer outro membro de nossa família, ou outra pessoa qualquer a quem temos apresentando o evangelho de Cristo, chegou ao arrependimento e hoje vive como salvo, que podemos achar que há mérito nosso nisso ou acharmos que temos qualquer participação nesse processo. Pelo contrário, ela ou ele está salvo a despeito de nós.

Desse modo, pensar e viver o autocuidado conforme a Bíblia nos ensina, torna a vida uma experiência libertadora. Retiramos de sobre os nossos ombros um peso que desnecessariamente carregamos, às vezes por toda a vida. Ele nos chamou apenas para sermos fiéis, a Ele e à Sua palavra, tanto no cuidado do outro quanto no autocuidado. E isso é tudo que ele espera de nós: fidelidade para com ambos, o autocuidado e o cuidado para com o outro!

É verdade que o inimigo de nossas almas, o mentiroso e pai da mentira, o nosso acusador, vai continuar sussurrando em nossos ouvidos, nos acusando por meio dos nossos próprios pensamentos corrompidos pelo pecado, sugerindo que não fizemos ou não estamos fazendo o suficiente. Assim será, sempre que um ente querido se afasta do Senhor e de sua Palavra, ou que aquela pessoa com quem estamos caminhando já a algum tempo no discipulado, distancia-se dos ensinos que estamos lhe dando. Ele não vai parar, vai continuar nos acusando. Prepare-se! A luta continua.

Por isso mesmo, para combater a mentira que drena as nossas energias, agarremo-nos à Verdade, a Palavra de Deus e ao Deus da Palavra, e resistamos firmemente às mentiras e acusações do Diabo, todas as vezes que percebermos suas astuciosas investidas contra nós. Essa é a única receita infalível que as Escrituras Sagradas nos oferecem: “Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração.” (Tg. 4:7-8, NVI).

Costumamos estabelecer alvos para o novo ano. Minha esperança e o desejo sincero do meu coração é que neste novo ano você decida cuidar mais de si mesmo para melhor servir àqueles a quem Deus lhe enviou, tanto os de casa quanto os de fora, sempre na dependência de Espirito Santo de Deus “que opera tudo em todos, conforme o dom que é dado a cada um” (1 Co. 12:6-11).

Rev. Gessé Rios

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