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Tempos novos, mesma Missão

O mundo está em constante dinâmica de transformação. Nos últimos 20 anos observamos profundas mudanças nas formas de comunicação, organização social, relacionamentos pessoais e valores éticos e religiosos.

Na década de 1990, Rossana e eu, juntamente com os nossos filhos, Vivianne e Ronaldo Junior, vivemos em uma aldeia do querido povo Konkomba, em Gana, Noroeste africano. Era um local isolado, sem acesso viável e nossa única forma de comunicação era um rádio amador, usado em casos de emergência. Hoje, os irmãos Konkombas se comunicam com frequência conosco por meio do Whatsapp, enviando fotos e vídeos dos acontecimentos diários. São tempos novos!

Se o mundo mudou, nossa missão continua a mesma: glorificar a Deus, fazendo discípulos em todas as nações. Nestes 20 anos, a APMT (Agência Presbiteriana de Missões Transculturais), pela graça de Deus, tem mantido o foco bíblico da missão em meio a um mundo em constante transformação.

Permita-me partilhar três verdades sobre a missão que não mudaram, e jamais mudarão. Essas verdades fazem parte do fundamento bíblico que nos leva a sermos quem somos e fazermos o que fazemos.

A GÊNESE DA MISSÃO É A VONTADE DE DEUS

O centro da missão não são os perdidos, mas Deus. Não é a igreja, mas Deus. A missão tem início em Deus, em sua vontade, e é finalizada em Deus, sua honra e glória. Tal missão, sendo fundamentalmente divina, é exercida por Deus em sua plenitude revelada, portanto fundamentalmente teocêntrica.

Para o primeiro missiólogo protestante, Gisbertus Voetius, teólogo holandês reformado do Século XVII, a missão se fundamenta na voluntas Dei (vontade de Deus), apontando para o decreto eterno de Deus no passado, as promessas de Deus no futuro e o mandamento missionário no presente.

Na grande comissão, o Senhor Jesus apresenta o fundamento sobre o qual a missão será cumprida: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra…” (Mt 28.18). É na autoridade de Cristo que a igreja caminha no mundo testemunhando o poder do Evangelho. É na autoridade de Cristo que o Evangelho é pregado com expectativa de ver vidas sendo transformadas. É na autoridade de Cristo que missionários são enviados para a proclamação da verdade do Evangelho entre as nações. É na autoridade de Cristo que a missão é cumprida.

Essa convicção, de que a gênese da missão é Deus e a vontade de Deus, deve nos levar a uma postura de dependência e obediência. Dependência, pois sem Deus nada acontece. Podemos ter excelentes treinamentos e enviar missionários preparados, mas sem a graça e intervenção de Deus a missão não é cumprida, pessoas não se convertem, igrejas não nascem e missionários não perseveram. Precisamos de Deus!

O segundo efeito dessa convicção é a obediência, pois a missão não nasce da vontade da igreja, dos pastores ou dos missionários, mas do próprio Deus. Por isso, o Senhor Jesus, após apresentar o fundamento da missão (sua própria autoridade), ordenou que a igreja vá e faça discípulos entre todas as nações. Encontramos significado de vida à medida que cumprimos a vontade de Deus.

O ALVO DA MISSÃO É GLORIFICAR A DEUS

A compreensão teológica da missão para Deus e sua glória, e não para os homens e seus planos, nos remete ao aspecto volitivo da missão, as entranhadas motivações que nos levam a fazer o que fazemos. A soli Deo gloria permeia os ensinos reformados em todas as áreas do conhecimento teológico, incluindo a eclesiologia e a missiologia e, assim, tanto a igreja quanto a missão existem para que Deus seja exaltado.

À medida que a glória de Deus é a primeira e mais profunda motivação para sermos quem somos e fazermos o que fazemos, passamos a desprezar outras motivações, como a competição, o reconhecimento, o sucesso ou a realização pessoal. Se Ele, e não nós, é o motivo último de nossa própria existência, o que fazemos deve se tornar um reflexo daquilo que somos, e o que somos deve ser definido por Cristo, em Cristo e para Cristo, como gritou o apóstolo: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim (…)” (Gl 2.20). Assim, a primeira missão da Igreja não é proclamar o Evangelho, compreender a missão ou socorrer o aflito, mas morrer – Cristo vive em mim.

A glória de Deus como finalidade máxima de vida e missão é uma doutrina bíblica extremamente necessária em nossos dias, sobretudo devido à forma como o ser humano percebe a si mesmo. A presente sociedade exalta egos e aplaude sucessos. Promove a competitividade e cria vencedores. Tornou-se utilitária e triunfalista em um mundo de extrema polarização de ideias. Em muitos aspectos, a igreja e a missão têm se tornado subservientes perante as forças do mundo na medida em que entram nas raias de competição entre si, de exaltação dos líderes e de meritocracia ministerial.

O panteão dos maiores e melhores não encontra lugar na teologia de Cristo. Somos, ao contrário, chamados a uma vida de quebrantamento e humildade, servindo primeiro o outro. Assim, o maior desafio missionário não é plantar igrejas, mas amar. E a teologia da glória de Deus como finalidade máxima de vida e missão realinha a quem devemos exaltar, engrandecer e dar graças – somente à Ele. À medida que a centralidade de Cristo influencia nossa vida pessoal, nossa mensagem e nossa missão, viveremos para a glória de Deus.

Paulo apresenta esse assunto em Romanos 16, versos 25 a 27. Ele diz: “(…) àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho” (fala de Deus), “conforme a revelação do mistério” (o mistério é o Messias prometido a todos os povos), “e foi dado a conhecer por meio das Escrituras Proféticas” (meio de revelação), “segundo o mandamento do Deus eterno” (meio de eleição), “para a obediência por fé” (meio de salvação), “entre todas as nações” (a extensão do plano salvífico de Deus), e segue para nos apresentar o motivo mais profundo nesse indescritível e maravilhoso plano divino. Ele afirma no verso 27: “Ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém!” É a glória de Deus!

Esse é o maior e mais importante motivo para nos envolvermos com o propósito de fazer Jesus conhecido até a última fronteira do país mais distante, ou da família na casa vizinha.

O RESULTADO DA MISSÃO É A ADORAÇÃO A DEUS

Deus deseja ser conhecido e adorado entre todos os povos da terra. Dentre outros, esse é um dos grandes resultados da missão: pessoas de todas as tribos, línguas, povos e nações sendo redimidas pelo Senhor Jesus.

O evangelho tem se espalhado por quase toda a terra. Pelo poder e vontade de Deus, usando a sua Igreja como agente de proclamação das boas novas de salvação, vemos que o Evangelho tem adentrado lugares imprevisíveis e igrejas têm nascido entre os mais improváveis. Não é incomum acompanharmos pesquisas missionárias em regiões supostamente não alcançadas pelo Evangelho e, lá chegando, sermos surpreendidos pela presença da Igreja do Senhor Jesus. O Evangelho de alguma maneira já havia chegado, pessoas foram transformadas e igrejas nasceram.

Por outro lado, há ainda muito a ser feito. Dentre os 7.000 povos não alcançados (com menos de 2% de cristãos evangélicos entre eles), cerca de 3.000 não possuem sequer um cristão conhecido. São mais de 1.600 línguas sem um verso traduzido da Palavra de Deus e vastas regiões sem a presença de uma só igreja de Cristo.

Estive em uma região de montanhas na Ásia, anos atrás, e o guia cristão que me acompanhava mostrou-me um imenso vale com dezenas e dezenas de grandes vilarejos. E disse: “Não há sequer um cristão entre eles”. Essa é ainda a realidade de muitos povos, muitas línguas e muitas regiões na terra. E o que falar do mundo pós-cristão, os povos minoritários em áreas remotas e os grandes movimentos da diáspora em todo o mundo?

Os tempos mudaram, mas não a missão. Que o Senhor desperte a sua Igreja para realizar a sua vontade: ser conhecido e adorado entre todos os povos da terra.

Rev. Ronaldo Lidorio

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