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Policarpo de Esmirna – Mártir ancião levado ao fogo

Naquela arena, um homem de mais de 86 anos de idade se via amarrado na estaca, enquanto o procônsul romano repetia: “Confesse que só César é o Senhor”! As pessoas sentiam pena do velho, pois, diante delas, havia ali apenas um senhor já debilitado pela idade e que não poderia representar mal algum ao poderoso Império de Roma. Na terrível perseguição aos cristãos, ocorrida em 156 d.C., um escravo torturado confessou o lugar em que haviam escondido o ancião Policarpo.

Aquele procônsul se sensibilizava com o prisioneiro de idade tão avançada e, por diversas vezes, insistiu com ele que bastaria confessar que César era o Senhor, queimando no altar, diante da imagem do Imperador, um pouco de incenso. Que mal haveria nisso? Todos ali estavam inclinados a soltar Policarpo. Até o procônsul pensava: “Que necessidade há em sacrificar esse velho?” Entretanto, o que nenhum dos espectadores sabia é que diante deles se encontrava não apenas um homem disposto a morrer por sua fé, mas Policarpo fizera de toda sua vida um projeto para a glória de Deus.

Policarpo, que nascera por volta do ano 70, tornara-se Bispo em Esmirna. Sua congregação, unida e bem organizada, era constituída de escravos, aristocratas e assistentes do próprio procônsul. Seus sermões, ensinos e sua defesa da fé inflamavam os ouvintes na luta contra o paganismo de seu tempo. O Bispo de Esmirna era tido como o elo entre seus ouvintes e os apóstolos de Jesus. Ele teria estudado aos pés de João, o evangelista e, sob as mãos deste, teria sido consagrado ao ministério. Portanto, é muito natural ouvirmos o eco dos ensinos joaninos e paulinos nos escritos de Policarpo, como, por exemplo, neste trecho de sua “Carta aos Filipenses”, na seção “contra os ensinamentos falsos”:

“Quem não confessa que Jesus Cristo veio em carne é anticristo; aquele que não confessa o testemunho da cruz é o diabo; aquele que distorce as palavras do Senhor segundo seus próprios desejos, e diz que não há ressurreição, nem julgamento, esse é o primogênito de satanás. Por isso, abandonando o discurso vazio de muitos e falsos ensinamentos, retornemos à palavra que nos foi transmitida desde o começo”.

Nas palavras de Ruth Tucker, “Policarpo, como muitos “teólogos” de sua época, era um evangelista e missionário que transmitia um profundo senso de urgência nessa interação com a cultura pagã em que estava inserido” (Até os Confins da terra, p. 34). Pregador e defensor da fé, o Bispo de Esmirna levantou sua voz contra os hereges de seu tempo, defendendo os ensinos dos Apóstolos contra as adulterações de Marcião, que negava a maioria dos textos sagrados, pregando que o Deus do Antigo Testamento era diferente do Deus do Novo Testamento. Com isso, Policarpo tem sua influência estendida, até mesmo na defesa pública, de quais textos já eram os que as igrejas espalhadas reconheciam como Escrituras autoritativas para a vida de fé e prática dos cristãos.

O Bispo de Esmirna podia ser encontrado debatendo nas praças com cristãos e não cristãos, sempre pronto a ensinar e defender o tesouro que recebera dos Apóstolos. Ele viajava a outros campos fora de Esmirna, indo também a Roma, buscando consenso para quaisquer divergências doutrinárias que pudessem surgir no seio do povo de Deus. Todo esse zelo doutrinário e amor pastoral pelo rebanho de Cristo não competiram com o seu maior testemunho entre os de sua geração: Policarpo era um homem de oração, um servo que orava noite e dia, em constante comunhão com Aquele que ele tanto amava e a quem dedicara toda sua vida.

Enfim, aquela arena se tornara um circo e os pagãos observavam Policarpo e gritavam: “Eis o Doutor da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor de nossos deuses”! Uma vez mais, o procônsul insiste que aquele idoso e debilitado homem, já preso à estaca, negue a sua fé e saia livre da condenação à morte na fogueira. Mas os pagãos não sabiam que diante deles, na verdade, se encontrava um humilde gigante da fé em Cristo Jesus. “Jura, e eu te liberto! Amaldiçoa o Cristo!” Policarpo respondeu: “Eu o sirvo há oitenta e seis anos, e ele não me fez nenhum mal. Como poderia blasfemar o meu rei que me salvou?”.

Rev. Fábio Ribas

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