
Paulo fez uma grande declaração: “Não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes” (1 Co. 1.26-29).
Quando olhamos para a vida de João da Silva Dourado, o camponês baiano, essas palavras se confirmam. Nascido em Caetité, casou-se com Geraldina Dourado em 1878, e foram morar em Angico, área pertencente à fazenda Lagoa Grande.
Em 1888 foram para uma região próxima, de nome Canal. Era um lugar de abundância de águas, e por essa razão vários boiadeiros tinham esse lugar como passagem obrigatória, seguindo a rota de Goiás – Piauí – Bahia. Era comum ao casal hospedar vários boiadeiros em seu lar para um pequeno descanso. Providencialmente, hospedou o boiadeiro Coronel Benjamim Nogueira, de Corrente, Piauí, e o primeiro crente batista de seu Estado.
João Dourado era um católico devoto, mas por uma noite Benjamim pregou-lhe a Palavra de Deus e expôs-lhe o evangelho de maneira simples, porém ungida, dos ensinamentos bíblicos. Deixou-lhe às mãos um Novo Testamento, encorajando João Dourado a lê-lo. Aceitou, todavia, comparando-o à “Bíblia verdadeira” da Igreja Católica.
Leu de imediato todo o Novo Testamento para combater os argumentos do Coronel Benjamim. Logo a seguir, procurou o Padre em Morro do Chapéu para lhe emprestar a Bíblia. O padre não quis fazê-lo, dizendo que o mesmo não tinha capacidade de entender essas coisas e a única Bíblia que possuía estava guardada em Salvador. Ficou desanimado em seu retorno.
Enquanto conversava com um advogado, no município de Nova Rainha, chegou alguém ali perguntando se a Bíblia protestante era a mesma da católica. João Dourado ficou atento à conversa e ouviu que era a mesma. Convencido, através da leitura, converteu-se João Dourado e, de imediato, passou a pregar o evangelho em toda a sua região.
Em 1903, o missionário presbiteriano Rev. Pierce Chamberlain conheceu o Coronel João Dourado, que o convidou para visitar os lugares que vinha evangelizando, somente com o conhecimento pessoal da Bíblia. Mediante esse contato mais demorado com o Rev. Chamberlain, as últimas dúvidas do coronel acerca do evangelho foram dissipadas. Foi batizado e continuou com mais vigor a sua obra evangelística.
Deu-se início, então, à Igreja Presbiteriana, sendo o Coronel João Dourado o verdadeiro pioneiro do presbiterianismo na região. A congregação foi organizada em igreja, na Fazenda Canal, em 1905, sendo o Cel. João Dourado eleito presbítero, com mais três outros membros da família. Já a congregação tinha nessa época mais de 100 membros.
Hoje, onde fora a sede da Fazenda Canal, está a cidade de João Dourado, onde está a maior Igreja Presbiteriana do interior do Brasil. Cabem cerca de 2000 pessoas no templo. João Dourado foi um verdadeiro missionário naquela região da Bahia.
Seu trabalho evangelístico se estendeu para várias outras regiões: Morro do Chapéu, Cafarnaum, Mulungu, Canarana, Barra do Mendes, Ibititá, Lapão, Irecê, São Gabriel, Jussara, Central, Gameleira, Xique-Xique, Traíras, Roçadinho, Macedônia, Descoberta, Lajedinho, Guanabara, Tanquinho, Borges, Sabino, Lagoa, Conquista, Lagoa Nova, Lagedão, Previnido, Angical, Caldeirão, Ipanema, Belo Campo, Limoeiro, Barra, Soares, Mocozeiro, Floresta e Umbuzeiro.
Ele deixou um grande legado como pregador do evangelho, como político, e uma geração muito influente na história da Igreja Presbiteriana do Brasil. Destacam-se os seguintes ministros presbiterianos, além de muitos outros: O Rev. Augusto Dourado (filho), Adauto Araújo Dourado, (neto), Othon Guanhães Dourado, Celso Dourado, Ailton Vilela Dourado. Muitos outros ministros surgiram da família.
Seu tataraneto, Rev. Ronaldo Dourado, é missionário da APMT; Helton Dourado, um dos descendentes, estuda no IBEL. Após uma vida abençoada e abençoadora, o presbítero João Dourado faleceu aos 73 anos no dia 9 de julho de 1927. Um verdadeiro missionário camponês. A Deus toda a honra e a glória!
Rev. José João de Paula