Quando depomos as nossas armas e dobramos os nossos joelhos
06/11/2024
O ato de depor as armas sempre foi um sinônimo de rendição. Ao longo da história, vários soldados já depuseram suas armas como um ato simbólico de reconhecimento de uma derrota inevitável. Na vida missionária, no entanto, o ato de depor as armas não é o anúncio de uma derrota, antes é o prelúdio de uma grande vitória.
A metáfora militar é comumente utilizada nas Escrituras como um ilustrativo da vida cristã e da estrada missionária. Muitos são os textos em que tal metáfora pode ser encontrada, no entanto gostaria de refletir um pouco sobre as implicações dessa metáfora para a vida missionária, com base no Salmo 44. Nele encontramos um princípio muito importante para aqueles que desejam servir ao Senhor (ou já o servem) no campo missionário, a saber: o fato de que se alcançarmos algum sucesso ministerial isso ocorre não por nossa causa, mas apesar de nós.
O salmista assim escreve: “Com a tua própria mão expulsaste as nações para estabelecer os nossos antepassados; arruinaste povos e fizeste prosperar os nossos antepassados. Não foi pela espada que conquistaram a terra, nem pela força do braço que alcançaram a vitória; foi pela tua mão direita, pelo teu braço, e pela luz do teu rosto, por causa do teu amor para com eles”. (Sl 44.2-3)
Ao olhar para o passado, Israel poderia contemplar inúmeras vitórias extraordinárias. Nenhum outro povo na história da humanidade, sendo tão pequeno, tanto no aspecto populacional quanto geográfico, alcançou tanta glória quanto Israel. Contudo isso não deveria ser visto como uma prova de sua grandeza, mas sim como uma prova incontestável da grandeza de seu Deus. Nesses versos, o salmista expressa claramente que foi o próprio Deus que operou graciosamente em favor de Israel.
Não foi pela espada e nem pelo poder de seus braços que os israelitas alcançaram a vitória, antes foi a mão poderosa de Deus, seu poderoso braço e o fulgor de seu rosto que, envoltos em seu amor incondicional, levaram aquela pequenina nação a ser quem ela foi.
Creio que esses versos são um guia necessário para nos auxiliar a compreender um pouco da história das missões. Ao lermos uma biografia missionária, relatórios de campo, cartas e e-mails de missionários, devemos ter a convicção de que se algo de gracioso está acontecendo no mundo, se vidas estão se voltando para o Senhor, se igrejas estão sendo plantadas e irmãos discipulados, isso não está acontecendo porque somos os melhores missionários, ou a melhor denominação, mas sim porque o próprio Deus, que ama os seus eleitos, tem operado com poder e graça, até mesmo através de vasos de barro como nós.
Com isso em mente, creio que todos os que almejam servir ao Senhor no campo missionário (quer transcultural ou nacional) deveriam fazer do verso 6 do Salmo 44 a sua oração: “Não confio em meu arco, minha espada não me concede a vitória” (Sl 44:6)
No serviço ao Senhor não existe lugar para a soberba ou para a autopromoção. Se desejamos servi-lo, precisamos urgentemente depor as nossas armas. Não é o meu arco, ou a minha espada, não é porque temos o melhor treinamento, ou porque somos grandes pregadores, não é porque temos um bom projeto ou uma boa rede de parceiros, não é porque somos portadores dos melhores métodos, essas coisas podem até ser importantes, mas o nosso sucesso missionário não depende necessariamente de nenhuma delas.
O prelúdio de nossa vitória passa necessariamente por um reconhecimento de nossa total incapacidade de produzir qualquer “bem espiritual” na Seara do Senhor. Não pode existir em nenhum momento da estrada missionária a ideia de que somos merecedores de receber alguma “glória”, antes “Em Deus nos gloriamos o tempo todo, e louvaremos o teu nome para sempre” (Sl 44.8).
Se queremos ser missionários que servem ao Senhor com fidelidade e amor, precisamos urgentemente parar de lutar com as nossas próprias forças. Depor as nossas armas, portanto, significa nos render completamente, declarando a nossa pequenez e fragilidade ao mesmo tempo que exaltamos a grandeza e a majestade de nosso Deus. Como disse o salmista “Parem de lutar! Saibam que eu sou Deus! Serei exaltado entre as nações, serei exaltado na terra.“ (Sl 46.10)
Que possamos depor as nossas armas e dobrar os nossos joelhos frente a grandeza e majestade daquele que é Rei sobre as nações. Precisamos reconhecer que Ele é quem faz e nós somos apenas instrumentos, que Ele é o tesouro precioso e nós apenas vasos de barro.
Rev. Gabriel Neubarth
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