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Fazendo Missões com as Mãos vazias

08/04/2024

ENTÃO DISSE JESUS: “Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas”. (Mateus 19.14)

JESUS RESPONDEU: “Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me’. Ouvindo isso, o jovem afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas.” (Mateus 19.21-2)

Os dois versículos acima se encontram no mesmo capítulo do evangelho segundo Mateus. De fato, essas duas histórias são apresentadas lado a lado na narrativa do primeiro evangelho, o que nos leva a compreender que de alguma maneira elas estão relacionadas. Qual a relação entre aquelas crianças e o jovem rico, e o que isso tem a ver com a nossa prática missionária?

A primeira narrativa é bem breve. Nela vemos um grupo de crianças tentando se aproximar de Jesus e sendo impedidas pelos próprios discípulos. O nosso amado mestre repreende seus discípulos, afirmando que eles deveriam “deixar vir a ele” esses pequeninos, porque “o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a eles”.

Para compreender o argumento de Jesus aqui, devemos levar em conta o contexto histórico e gramatical da passagem em questão. O texto afirma, no verso 18, que essas crianças haviam sido trazidas à presença de Jesus, ou seja, elas não vieram sozinhas, pois provavelmente tinham pouca idade. A própria palavra “crianças”, no texto, indica bebês, por isso é comum a tradução “criancinhas” ou mesmo “pequeninos”.

Como pai sei bem que um bebê não pode fazer nada sozinho, ao contrário, em tudo depende de seus pais. Sem o auxílio materno e paterno bebês não conseguem sobreviver, não comem, não bebem, não mantêm sua higiene, não se vestem... Bebês vêm aos seus pais com as mãos vazias. Aquelas crianças que foram até Jesus, e que foram usadas como paradigma de “entrada no reino dos céus”, exaltam a graça de Deus na salvação do homem, elas demonstram que Deus salva aqueles que nada têm a oferecer, que são como crianças com as mãos vazias ante seus pais.

O segundo texto, bem mais longo (Mt.19.16-30), nos conta a história de um jovem rico. Depois de explicar o texto anterior, o contraste entre o jovem rico e aquelas crianças se torna claro e evidente. O jovem rico se via como alguém que cumpria a Lei de Moisés, como alguém digno de herdar o reino dos céus. A insuficiência das crianças é contrastada com a autossuficiência daquele jovem. O jovem rico veio até a presença de Jesus com as mãos cheias de méritos, de riquezas, de razões. O que ele não sabia é que toda essa justiça é, para Deus, como trapos de imundícia. Ele não sabia que Deus rejeita o orgulhoso e ampara o humilde e quebrantado de coração.

O orgulho e a autossuficiência do jovem rico são claramente perceptíveis no texto por meio de suas palavras e ações. Ao ser confrontado com a primeira tábua da lei (v.18), ele afirma “a tudo isso tenho obedecido”. Como leitores bíblicos sabemos que ninguém, exceto Cristo, cumpriu a lei integralmente. Esse jovem tinha uma fé baseada no mérito e na performance, e assim vivia preso ao autoengano de que por meio de suas próprias obras poderia conquistar uma herança no reino dos céus.

Nosso amado mestre, no entanto, conhecia o coração daquele jovem melhor que ele mesmo e lhe ordenou que vendesse tudo o que tinha e o seguisse. O coração daquele jovem estava preso aos bens materiais, ele amava mais a seus bens que a Deus, e essa era a evidência que ele não cumpria a Lei, que se resumia em “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. A tristeza daquele jovem era fruto de sua autossuficiência, de seu desejo pecaminoso de ter as “mãos cheias de bens inúteis”, em lugar de mãos vazias, prontas para serem enchidas pelo próprio Deus.

Ao ler essas duas histórias bíblicas, e confrontá-las com a nossa prática missionária, sou levado a propor a seguinte pergunta: estamos fazendo missões com as mãos vazias? Somos a geração missionária que, talvez, mais dispõe de recursos para o cumprimento da missão. Tudo nos leva a crer que temos a melhor tecnologia, os mais variados cursos, os melhores métodos, e as melhores oportunidades, e tudo isso tem levado muitos a fazer missões como o jovem rico: cheios de si mesmos, pensando que o objetivo será alcançado porque na verdade estão muito bem preparados e são bons no que fazem.

O caminho bíblico para o cumprimento da missão não é esse. Devemos fazer missões como aquelas criancinhas, ou seja, com as mãos vazias. Devemos reconhecer nossas limitações, falhas e incapacidades, e nos achegar ante ao Senhor com as mãos vazias. Somente ao reconhecer nossa pequenez é que estamos prontos para sermos corretamente usados por Aquele que é capaz de “encher mãos vazias”.

Os discípulos de Jesus, no final da segunda história, parece que tinham uma visão similar ao jovem rico acerca da salvação e do serviço cristão. Ao ver aquele jovem sair entristecido, aquele que era um exemplo para a cidade, um homem religioso, de moral elevada e cheio de riquezas materiais, eles se olham no espelho de suas próprias almas, incapazes e indignas e, tomados de dúvidas, perguntam a Cristo: “Nesse caso quem pode ser salvo?”. Ou seja, se aquele homem, com as mãos tão cheias de boas obras, riquezas e moralidade, não podia ser salvo, quem seria capaz?

É nesse contexto que encontramos uma das afirmações mais belas da Escritura: “Jesus olhou para eles e respondeu: Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis” (Mt.19.26). O evangelho declara que Deus é capaz de salvar o pecador, de fazer o que não podemos fazer por nós mesmos, que Ele é capaz de encher as mãos vazias, de usar o quebrantado e humilde de coração, de “escolher as coisas loucas do mundo, para envergonhar as sábias, e escolher o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o forte” (I Coríntios. 1.27). Devemos nos lembrar, portanto, que a obra missionária não avança pela força de nosso braço, e sim pela força daquele que fez da impossibilidade uma certeza, cravando nossos pecados em uma cruz e ressuscitando ao terceiro dia.

O reformador Joao Calvino afirma: “A fé, pois, põe diante de Deus um homem vazio, para que seja enchido com as bênçãos de Cristo”. Que possamos, como igreja missionária, resgatar a verdade de que devemos fazer missões com as mãos vazias, que não é sobre nós, por nós, ou para nós, mas que é, e sempre será, “por Ele, e para Ele”.

Talvez você, querido leitor, sempre tenha se visto incapaz de se envolver mais ativamente na obra missionária, pois ao olhar suas próprias mãos, não conseguiu ver muitas coisas dignas a oferecer. A grande notícia do evangelho é que o Reino dos Céus não é dos fortes e sábios, e sim dos quebrantados e humildes. Não tenha medo, Jesus é especialista em encher mãos vazias e usar os pequeninos, bem como realizar aquilo que para o homem é impossível.

Rev. Gabriel Neubarth

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