Missionária Isabel Arthur
04/03/2025
Quais os eventos mais relevantes para a história de um povo? Quais critérios você usaria para determinar que uma pequena decisão, uma simples resposta dada em silêncio, no coração de uma jovem de apenas 19 anos de idade, poderia ser um marco para a história de todo um país?
Talvez, algum estrangeiro que estivesse visitando Guiné Bissau, em julho de 2010, imaginasse que toda aquela comoção nacional ao redor do rito fúnebre que se apresentava, se devesse ao falecimento recente de algum herói nacional, um líder na luta pelo povo ou, quem sabe, um cidadão guineense que projetou a cultura do seu país mundo afora. Certamente, qualquer uma dessas alternativas justificaria o que olhos forasteiros estavam vendo naquele mês pelas tabancas e cidades de Guiné Bissau. Aquela consternação, todavia, era pelo falecimento de uma senhora escocesa que dedicara 54 anos de sua vida àquele povo.
A história dessa mulher, Isabel Arthur, começa em sua terra natal, quando ela atende aos apelos da família Brierleys, que buscava respostas às suas orações por linguistas para a Guiné-Bissau. Os pioneiros Brierleys haviam constatado, ainda em 1940, a necessidade daquele país multiétnico ter a Bíblia escrita em suas línguas maternas, porém quem aceitaria o desafio de investir num daqueles projetos? Naquela altura, uma tradução da Bíblia em Crioulo era considerada crime pela Lei Portuguesa Colonial, desse modo, uma alternativa para alcançar aqueles povos era fornecer a Palavra de Deus em Balanta, Bijagó, Papel e Manjaco. Era preciso, porém, que o Espírito Santo convencesse jovens missionários para aquela empreitada.
Em 1956, com apenas 19 anos de idade, chega em Guiné-Bissau uma escocesa que trabalharia incansavelmente para que a Bíblia chegasse até aquelas etnias. Deus estava presenteando o país com uma missionária que era descrita pelos que conviveram com ela como “introvertida (consegue ter motivação e energia sozinha, além de ser quieta), analítica, mente lógica, organizada e dedicada. É ótima para o trabalho de tradução da Bíblia. Ela também lida bem com finanças, por isso permaneceu como tesoureira da WEC por muitos anos”. Essa tenacidade a acompanhou por toda sua vida de tradutora. Incansável, ela passava horas com seus ajudantes que, vez por outra, caíam exaustos, enquanto Isabel permanecia alerta tendo sempre uma garrafa de café ao seu lado. Ela entregou o Novo Testamento em Bijagó, publicado pela Sociedade Bíblica em 1989, e após anos de trabalho, entregou o Antigo e Novo Testamentos em Crioulo, Bíblia publicada em 1998. Esta teve seu lançamento num Culto com diversas autoridades, no dia 14 de novembro do ano 2000, data que se tornou o Dia da Bíblia em Guiné Bissau.
Isabel presenteou com Bíblias ao Primeiro-Ministro, ao Procurador-Geral da República e também ao Presidente da Assembleia Nacional Popular. Então, agradecendo a Deus, ela disse: “Antes da tradução da Bíblia nas línguas Papel e Crioulo, encontrando-me de visita a uma Igreja, notava que no momento em que anunciava a leitura da Palavra de Deus (em língua que a maioria não entende) muitos baixavam a cabeça em sinal de desinteresse. Aquele momento era tempo perdido! Mas agora, com a existência da Palavra de Deus na sua própria língua, aquela atitude mudou radicalmente. Graças a Deus!” Nas palavras de Isabel Arthur, o maior impacto da tradução para o povo guineense é que a Bíblia, na língua materna, “ela desperta o povo”!
Enfermeira, Isabel era amada pelo povo, que vinha em viagem de horas e horas só para que ela pudesse orar e os abençoar para o trabalho. Não é de se estranhar, portanto, que sua influência na Igreja de Guiné-Bissau seja sentida até os dias de hoje. No fim da sua vida, Isabel retornou à sua terra natal, mas apenas para se despedir de seus familiares, amigos e igrejas. Seu desejo era ser enterrada na terra em que dedicou a maior parte de sua vida e seu desejo foi atendido.
Rev. Fábio Ribas
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