Cuidar dos que cuidam
19/02/2025
No final de outubro de 1995, deixamos o Brasil rumo a Moçambique, após passar quatro meses nos Estados Unidos. Levávamos apenas nossos três filhos, que na época tinham 6, 4 e 2 aninhos, além de algumas malas e, no coração, expectativas positivas sobre o trabalho. Para traz ficaram o que de mais precioso nós tínhamos, nossos pais, nossos irmãos, demais familiares e muitos amigos. Isso numa época em que comunicação era extremamente precária, particularmente naquela parte do mundo.
O tempo de trabalho em Moçambique foi intenso e gratificante, seja no ensino a líderes cristãos nacionais, na participação do plantio de igreja e no ministério com mulheres e crianças. No entanto, sofremos muito com as limitações do país, ao nos depararmos com a sua infraestrutura totalmente destruída por duas longas guerras, a independentista, que durou oficialmente de 1964 a 1974, e a guerra civil, que se estendeu por aproximadamente mais 20 anos, entre 1974 a 1994. A falta de alimentos e itens básicos para a sobrevivência, sobretudo para o desenvolvimento normal de nossas crianças, nos obrigava a deixar o país periodicamente para as providências necessárias.
Debilitados pelas muitas malárias e por outros problemas de saúde, retornamos ao Brasil em busca de assistência médica. Após quatro anos de tratamento, mas sem poder mais viver em contexto de malária, fomos para outro país e projeto. O foco do nosso trabalho foi o evangelismo e discipulado de refugiados na Cidade do Cabo, África do Sul. O trabalho cresceu, as demandas aumentaram e o que seriam dois anos viraram mais de 20 anos dedicados ao trabalho com refugiados e na coordenação missionária da APMT para a Área da África Austral. Nessa função oferecemos apoio a missionários de passagem pela África do Sul, no programa de aquisição do Inglês, acompanhamento dos missionários que atuam na região Austral e seus projetos, bem como no desenvolvimento de novas parcerias missionárias para a região. Atualmente, continuamos atuando nessa função, mas sem mais poder morar na África do Sul devido a problemas com o visto da Iolanda.
Nossa experiência nos mostrou o quanto nossos parceiros, muitos dos quais continuam caminhando conosco após 27 anos de jornada, sempre se preocuparam conosco e nos apoiaram, especialmente nos momentos mais desafiadores pelos quais passamos. No entanto, em determinadas situações, em termos práticos, pouco podiam fazer. Isso nos fez despertar para o fato de que nossos colegas precisavam de orientação e acompanhamento no dia a dia do trabalho transcultural. Assim, tomamos a decisão de oferecermos nosso apoio e amparo a qualquer missionário que viesse servir perto de nós. E seria assim que viveríamos a nossa experiência missionária durante a nossa vida. Desde cedo entendemos que o envio não podia consistir simplesmente em um treinamento pontual e pronto. Vimos a necessidade desse missionário e sua família serem acompanhados de perto em todo o seu processo de envio, isto é, do recrutamento e treinamento ao levantamento de recursos, à chegada e adaptação cultural ao campo, as suas reentradas ao Brasil e, principalmente, até o seu retorno definitivo ao nosso país.
Assim, diante do vertiginoso crescimento da APMT desde a sua criação, no início dos anos 2000, a Agência vem se deparando cada vez mais com a necessidade de implementar um programa para melhor acompanhar e cuidar de seus missionários. Após brilhantes iniciativas particulares de irmãos abnegados que se dedicaram incansavelmente a essa tarefa, com zelo e amor, entre eles destaco o Presbítero Azor Ferreira (in memoriam), Nice Ferreira, Mônica Mesquita, Rev. José João de Paula (in memoriam) e tantos outros, em 2019 a APMT decidiu criar uma nova Área de atuação para, de forma intencional e continuada, acompanhar seus missionários, tanto na fase do pré-campo, como durante o seu trabalho no campo, e em seu processo de retorno definitivo do campo. Trata-se daquilo que Dave Pollock[i] chama de “fluxo do Cuidado”, ou seja, o cuidado sistematizado em três fases, formando uma escada imaginária composta de nove degraus, que são: recrutamento, seleção, preparação e orientação (ou a fase do pré-campo); partida, chegada, vida no campo (ou a fase do campo, incluindo os retornos periódicos); preparação para retornar à “casa”, reentrada e apoio contínuo, ou a fase do retorno definitivo.
Assim, após vários meses de reuniões por videoconferência, uma comissão nomeada pela APMT, da qual fizeram parte os Coordenadores de Áreas e outros missionários da Agência, empenhados na questão do cuidado, foi produzido um documento, propondo a criação oficial dessa nova área de cuidado missionário. O projeto foi aprovado em 2021, no papel, mas continuou sem possibilidade de ser colocado em ação por falta de um casal que preenchesse alguns requisitos básicos para assumir a liderança. Em 2023, a APMT nomeou uma coordenadoria, composta por cinco nomes. Assim, em dezembro de 2023, iniciou-se oficialmente esse trabalho que segue, no momento, fazendo acompanhamento de demandas, bem como, em processo de montagem da estrutura do Cuidado Missionário aprovada pela Agência.
Saiba mais em: https://apmt.org.br/ccm
Rev. Gessé Rios
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